O que o filme Os Estagiários pode nos ensinar sobre equipe de trabalho?

Publicado em 25 de fevereiro de 2016

 

Sempre que a gente tem a oportunidade de rever um filme ou reler um livro, em outro momento, em outro contexto, novas percepções se aguçam sobre o enredo já conhecido. Foi o caso do filme Os Estagiários (original: The internship; ano: 2013) que vi no cinema, mas que não me tirou muitas gargalhadas a princípio, apesar de ser uma comédia, nem me provocou qualquer reflexão mais profunda.

Revendo recentemente, e tocado por algumas leituras da área de administração que venho fazendo, pude observar como fica evidente no filme a dualidade entre o que seria um grupo de trabalho e uma equipe de trabalho, conforme os conceitos abordados na Psicologia Organizacional. E também como convivem os indivíduos de diferentes gerações dentro de uma mesma equipe.

 

Grupo vs equipe

 

Durante uma espécie de gincana que faz parte do processo seletivo de estagiários para o Google, times são formados para competirem pelas vagas disponíveis, sendo os integrantes vencedores aptos a ingressarem na empresa. Desde o momento que é deflagrado o início da competição, percebe-se que pelo menos um time se porta segundo as características do que se considera um grupo de trabalho; aquele que é liderado pelo personagem ambicioso e arrogante Graham Hawtrey.

De acordo com Idalberto Chiavenato, autor do livro Comportamento Organizacional: a dinâmica do sucesso das organizações, a presença marcante e até opressora do líder é a principal característica do grupo de trabalho. Já a equipe de trabalho, segundo ele, proporciona ou vivencia o relacionamento e uma efetiva comunicação interpessoal, com o favorecimento do elo emocional entre as partes.

Em outras palavras, há uma sinergia entre os membros da equipe. O aspecto emocional nas relações, que é a grande diferença do conceito de equipe, é justamente o que é evidente no time dos protagonistas Billy e Nick, o qual é liderado pelo colaborador do Google, Lyle, jovem que foi bastante responsável pela entrada da dupla nessa etapa final da seleção.

Numa sequência do filme, os integrantes da equipe dos dois protagonistas estão desacreditados nos primeiros momentos do jogo de quadribol (esporte inspirado em Harry Potter). Afinal, eles são os “leftovers”(sobras), como diz o recrutador na cena da formação das equipes. No entanto, recebem uma injeção de ânimo da dupla, que compartilha de forma bem-humorada suas experiências de vida como conselhos para o time. Os desempenhos individuais e o resultado coletivo são superados bem além das expectativas, quase os levando à vitória, se não fosse pelas estratégias desonestas de Graham.

Este é um líder que se coloca como superior diante dos liderados e ainda os explora e os humilha, como na cena em que ele atinge um dos membros com um cabo de vassoura nos últimos momentos do jogo para forjar uma falta e conseguir vantagem para ganhar a partida. Características como pressão, coação e manipulação, que são apontadas por Chiavenato como comuns em grupos de trabalho, são identificadas na liderança desse time.

Já Billy, que acaba exercendo um papel de liderança para sua equipe, tem como principais características o estilo apoiador e a comunicação interpessoal, habilidade que o ajuda também na função de vender. Era o que ele fazia antes de ficar desempregado e de tentar uma vaga de estagiário no Google.

Pelo exemplo explorado no filme, podemos notar que a comunicação interpessoal é a chave para a constituição e manutenção de uma equipe integrada e produtiva. Quando os membros conhecem uns aos outros e se apoiam, se comunicam e definem objetivos e metas em conjunto, bem como trabalham conjuntamente para alcançá-los, os resultados são evidentes e satisfatórios para a equipe e para cada indivíduo.

 

Convívio de gerações

 

Um dos aspectos mais interessantes do filme é que, além de abordar os formatos diferentes e divergentes de trabalho coletivo, também trata do convívio de gerações distintas e da diversidade no ambiente corporativo, o que é uma realidade patente da contemporaneidade, não necessariamente bem resolvida.

Nas primeiras cenas na sede do Google, vemos dezenas de jovens por todos os lados, de diferentes etnias e estilos; uns mais juvenis, outros um pouco mais maduros. Mas Nick e Billy são os únicos candidatos adultos de meia idade naquele lugar. De certa forma, parece que a diversidade no mundo corporativo tem restrições em relação à pirâmide de faixa etária. E a presença da dupla faz contraponto a isso.

É no conjunto das diferentes inteligências, inclusive, e das características particulares de cada geração que o potencial de um time se eleva. Foi justamente essa observação destacada pelo personagem Lyle (um dos colaboradores do Google), na reunião de pré-seleção, que fez com que Nick e Billy fossem aprovados para as demais etapas do processo seletivo.

Comparando-os ao perfil médio dos então estagiários do Google, Lyle os aponta como aqueles que pensam fora da caixa (out of the box thinkers) e chama atenção para o diferencial dos dois: “Eles têm mais anos de vendas e experiência do que os estagiários têm de vida”. Apesar da inteligência técnica requerida para o negócio, aos atuais estagiários faltam aquelas características, que poderiam ser agregadas por Billy e Nick, apesar de eles serem plenos leigos em matéria de tecnologia, como se observa ao longo da estória.

Assim, o filme nos ajuda a perceber que as empresas precisam estar abertas ao maior número de diferenças em suas equipes, e a sopa de letrinhas (X,Y,Z) – as gerações contemporâneas – precisam saber conviver e cooperar entre si. As características de personalidade de cada colaborador, somadas, devem formar um todo positivo para a empresa.

 

Harmonia da equipe

 

Há dois momentos preciosos no filme em relação a esse tema. O primeiro é o teste de suporte por telefone, em que a equipe se sai muito bem e só não vence por um descuido de Billy. Mas, apesar de se sentirem decepcionados com ele, os membros da equipe defendem sua permanência e confiam nele para o seu sucesso na competição.

O outro é quando a equipe precisa vender o serviço do Google AdWords para uma empresa familiar que ainda não esteja no Google Mapas. A equipe tenta conquistar uma pizzaria popular no bairro, mas o empresário parece estar convicto em não aceitar. Apesar disso, Billy consegue criar uma atmosfera favorável, construindo uma linha de raciocínio em favor da filosofia do próprio empresário. Nisso, os demais integrantes, que tinham dificuldade de fazer a abordagem de venda, conseguem contribuir à sua maneira, como uma verdadeira equipe.

Serve a esse exemplo a analogia do coral mencionada por Bernardo Leite Moreira em seu artigo A importância no trabalho em equipe, publicado no Portal Administradores. A equipe tinha seu melhor vendedor (Billy), mas executou um brilhante trabalho em harmonia, cada qual agregando um pouco de informação, baseando-se em suas expertises.

 

 

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